tag:blogger.com,1999:blog-20805015918405078532024-02-18T22:25:24.244-08:00MIRA EL LADO BUENOaos delicados e oprimidos, acima das profissões e dos vãos disfarces do homemAna Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.comBlogger108125tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-68344547322544249282014-07-15T16:21:00.000-07:002014-07-15T16:21:01.585-07:00A canção dos meninos de rua<div style="text-align: justify;">
Como se sabe, sou educadora social e trabalho com população em situação de rua. Adultos, homens em sua maioria. Ontem aconteceu um episódio interessante e eu gostaria de compartilhar com vocês.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estávamos tomando café e um rapaz chegou cantando uma música. Um rap sobre violência e drogadição. Imediatamente os outros o acompanharam e, ao final, se olharam com identificação e um deles perguntou: "então você também foi menino de rua?". O que puxou a música afirmou e disse que aquela ele tinha aprendido na FEBEM. Eu perguntei quem era o compositor e eles me explicaram que ninguém tinha inventado a música, ela simplesmente se criou em meio aos meninos e meninas de rua, e que ela pertencia a quem a cantava. E depois me ensinaram outras. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu pedi permissão para anotar algumas letras; elas são fortes e, a seu modo, educativas. De um jeito torto e forte cunho moral, alertam para o perigo das das drogas e falam do "mundo do crime":</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No primeiro assalto você leva a sorte </div>
<div style="text-align: justify;">
Escapa da polícia e também escapa da morte </div>
<div style="text-align: justify;">
No segundo assalto as coisas não vão bem </div>
<div style="text-align: justify;">
Escapa da polícia, mas cai dentro da FEBEM </div>
<div style="text-align: justify;">
No terceiro assalto seu destino está selado </div>
<div style="text-align: justify;">
Você pela polícia acaba sendo baleado </div>
<div style="text-align: justify;">
Com uma bala na cabeça e outra no coração </div>
<div style="text-align: justify;">
É mais um fim de um ladrão</div>
<div style="text-align: justify;">
E os que não morrem continuam a roubar</div>
<div style="text-align: justify;">
Para não morrer começam a matar </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A violência policial, absolutamente naturalizada, aparece como o fim esperado para um ladrão. E a única saída possível para a violência é a própria violência. Para não morrer, começam a matar: é tão verdadeiro que dói. No completo abandono em que vivem, essas crianças inventaram sua própria escola, seu próprio jeito de se colocar diante do mundo que só lembra que existem no momento em que roubam e matam. Como na célebre música do Planet Hemp, "tentando gritar do seu jeito infeliz que o país os deixou na desgraça". Enquanto a infância de tantos de nós foi embalada por cantigas de roda que falavam sobre peixinhos, caranguejos e anéis quebrados, esses meninos e meninas inventaram canções que retratam seus sofrimentos mais cotidianos, sua luta diária por sobrevivência, suas perdas e seus medos. E infância é época de bravura, mas também de medo. </div>
<div style="text-align: justify;">
A sociedade deveria se chocar com o fato de existir a expressão "meninos de rua". Deveria se espantar mais ainda com o fato de eu trabalhar com homens de 23, 24, 25, 30, 35, 40 anos que cresceram e se criaram na rua. Seres humanos que nunca tiveram um lugar para chamar de casa. Ou tiveram, por um período frágil de tempo, e logo voltaram para a rua.</div>
<div style="text-align: justify;">
Viver na rua não é opção. Se esses sujeitos estão na rua, é porque todas as instituições falharam com eles, e a culpa também é nossa. Falhou a família, a escola, a igreja, fecharam-se todas as portas. E as crianças continuam a cantar suas canções, nos bueiros do centro, debaixo dos viadutos, na sua calçada... basta ter ouvidos para escutar.</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-46925332578155445442014-04-14T17:28:00.003-07:002014-04-14T17:28:51.403-07:00é nóis<div style="text-align: justify;">
As pessoas têm me perguntado por que eu troquei a escola pela rua. A resposta me parece tão cristalina que eu tenho dificuldade de verbalizar... sou assim mesmo. Então resolvi escrever sobre o meu novo trabalho e sobre tudo o que vier à cabeça agora; peço desculpas de antemão se ficar muito chato, pois faz muito tempo que não escrevo nada aqui e eu acho que nem me lembro mais como se escreve algo que não seja relatório de trabalho ou prova da faculdade. Fique à vontade para deixar de ler agora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu estava gostando muito de trabalhar com as crianças. Mas não estava gostando de trabalhar em escola. Trabalhei por cinco meses em uma das escolas mais moderninhas do Brasil, super prafrentex mesmo, de esquerda, cheia das arte e tal, uma beleza de escola caríssima para onde as elites intelectuais paulistanas mandam seus filhos. Foi uma experiência bastante enriquecedora para mim, apesar das condições ruins de trabalho e do salário de estagiária, mas o que me fez sair de lá foi a constante cobrança de tirania que recaía sobre meus ombros. O tempo inteiro eu fui pressionada a ser mais "brava", como se a culpa de aquelas crianças ricas acharem que o mundo todo estava ali para servi-las fosse minha. Não deu. No começo deste ano, eu fui para uma escola mais tradicional, um colégio judaico. Lá, pasmem, a cobrança de tirania era muito menor, e eu finalmente comecei a me sentir uma profissional um pouco mais respeitável, que não precisava gritar feito louca para conseguir um pouco de atenção das crianças. Mas, assim como na escola precedente, a riqueza absurda daquelas crianças me congelava por dentro, sobretudo nos momentos em que elas externalizavam sua concepção de mundo daquele jeito puro que só as crianças sabem fazer. Lembro de uma vez em que conversava com um menino sobre uma atitude que ele teve em sala (jogou os cadernos da colega no chão e pisou em cima) e sobre a importância do respeito a todas as pessoas dentro da escola, aos funcionários, às professoras, à colega... ele me olhou furioso e disse que o pai dele não pagava a escola para ele ouvir bronca. Quando eu respondi que o dinheiro que o pai dele pagava não lhe dava o direito de humilhar as pessoas, ele respondeu: "então quanto que ele tem que pagar para eu ter esse direito?". Naturalmente, contei a esse menino a verdade inconveniente de que o dinheiro do pai dele não poderia comprar tudo, e a informação foi de tal modo chocante que seus olhos se encheram de lágrimas e ele ficou silencioso por um bom tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Todas esses episódios foram me deixando triste com a escola, com suas relações sempre tão verticais, com a tirania presente em cada momento em que o limite entre o querer do aluno e a imposição da professora se tornava mais conflituoso. Aí eu fui me questionando se estava na profissão certa... porque não bastava gostar de criança, afinal, era preciso alguma coisa que eu não sabia onde encontrar, e se essa coisa fosse o "ficar brava" com as peraltices da criançada, certamente a professora Carol não tinha conserto.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acontece que eu não tive tempo de dar mais uma chance para a escola. Fui chamada em um concurso prestado há mais de um ano, um concurso de educadora social, e assumi o cargo. Deixei a escola para as guerreiras com as quais tanto aprendi nesses meses de docência, que levam verdadeiro "jeito para a coisa" e conseguem se fazer ouvir apenas com um olhar. Minha gratidão a todas e que Deus abençoe sempre as crianças com as quais eu tive alegria de trabalhar; suas risadas escandalosas e suas declarações espontâneas de amor são bálsamo para minha vida inteira. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tinha vaga ideia do trabalho que desenvolveria como educadora social, mas algo me dizia que agora, sim, eu conseguiria trabalhar com um pouco mais de autonomia as minhas ideias sobre emancipação pela educação e trabalho com comunidades (desculpem se eu viajo, sonhar é fundamental). E eu não trabalharia para a elite!! Puxa vida, ganhar chocolate belga, suíço, Kopenhagen, perfume importado e tudo o mais era bacana, o salário também não era nada mal, mas a briga aqui dentro de mim estava grande demais. Sinceramente, tal qual uma panela de pressão defeituosa, eu era um colapso anunciado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Bom, então chegamos ao dia de hoje. Há mais ou menos um mês eu trabalho com pessoas que se encontram em situação de rua, desenvolvendo com elas oficinas, rodas de conversa, falando muito com elas sobre a vida e aprendendo imensamente. Eu tenho tanta coisa para contar, eu já cresci tanto. Juro pra vocês. Mesmo sendo só um mês. E eu confesso que tenho sofrido muito, também. Porque amo muito o ser humano, e não é fácil amar o ser humano nesse mundo de merda em que vivemos. Mas o importante é que sinto que meu trabalho tem sido um pouco útil e fico radiante quando algum dos meus novos amigos chega todo bonachão perguntando qual é a boa do dia, ou quando outro chega pela primeira vez, acanhado, e participa dos debates meio receoso, e participa no outro dia mais falante, e chama seus outros amigos, e vai com a gente assistir a um espetáculo de dança... mesmo sendo aquele ambiente tão opressor para ele, mesmo assim! Ele vai! A gente vai com ele. E é bonito quando tocam violão e lembram de histórias passadas, um até chorando (!) pois fazia seis anos que não colocava a mão em um violão, e tocar violão é reviver, e reviver dói, apesar de ser bom. Conversamos sobre temas polêmicos e eu percebo que a rua deixa as pessoas com a mente mais aberta que a escola. É meio louco. Falar de homofobia e violência contra a mulher rende debates muito enriquecedores que eu não tive espaço para fazer em sala de aula, infelizmente. Provavelmente porque agora trabalho com pessoas adultas. Provavelmente porque muitas delas sentem na pele o peso de ser travesti, o peso de ser mulher na rua e ter seu corpo violentado o tempo inteiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho sido lá no trabalho, pelo menos neste primeiro momento, alguém com quem se pode desabafar. Não sei explicar. Talvez seja a minha idade, meu sincero interesse por suas histórias ou a dificuldade dos moradores em conceber o que faz uma educadora social (às vezes é obscuro até para mim), mas todos me falam de suas vidas com muita naturalidade. Da carga pesada que carregam desde muito pequenos. Das mães espancadas, dos pais estupradores, das mães que abandonaram, das irmãs violentadas, dos abrigos tenebrosos, da FEBEM, da cadeia, da polícia violenta, do frio da rua, da alegria da rua, do crack, da cocaína e do álcool, dos amantes... da solidão.</div>
<div style="text-align: justify;">
A autoestima das pessoas em situação de rua, não é difícil adivinhar, é bem baixa. Todos os dias um desconfiado vem me perguntar se eu estou gostando do trabalho ou se eu vou deixá-los. Ah, se ele soubesse o quanto é necessário para mim estar ali, trabalhar ali, aprender com eles. Aprender quando vejo o milagre da multiplicação das marmitex, 11 alimentam 30, aprender a compartilhar e a resistir. Aprender com esses corações que já sofreram muito mais que o meu e ainda têm sempre uma palavra de carinho, um desenho, um poema ou uma piada para me fazer sorrir, sonolenta e esperançosa que sou, às 8h da manhã.</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-75078360823326780042013-08-25T19:33:00.002-07:002013-08-25T19:37:24.360-07:00crianças<div style="text-align: justify;">
Hoje eu tropecei e caí na rua e gritei muito de dor. "AAAI AAAI AAAI" até sentir que estava de bom tamanho. Simplesmente não pude evitar. O Rodrigo me afagou e eu fui me acalmando e silenciei. Foi a primeira vez que eu demonstrei em alto e bom som o que eu sentia, e eu acho que tenho aprendido isso com as crianças da escola onde estou trabalhando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As crianças se machucam muito, o tempo todo, desesperadamente. E elas se comportam sempre mais ou menos do mesmo jeito: o choro (varia de escandaloso a contido), o pedido de colo (nem sempre verbalizado) e a calmaria. Cada criança é um oceano. E depois elas voltam a brincar com mais energia ainda.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os pequenos adoram dançar. Nas aulas de música, o professor tocava "Chocolate" do Tim Maia e espontaneamente a sala se tornou um grande baile. Semana passada teve uma oficina de dança, e um dos meninos veio me mostrar tudo o que tinha aprendido. Que cena mais linda é uma criança dançando... vinte segundos de apresentação particular daquele menininho gravados para sempre dentro de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
As crianças buscam resolver suas questões, muitas vezes, no grito. Ou na agressão. Pequenos seres em estado de natureza! Daí a gente ajuda na resolução dos conflitos estimulando o diálogo: "diz pra ele o que você tá sentindo". Então elas dizem que nunca mais vão perdoar o fulano, "nem amanhã!" e, depois de alguns minutos, já estão lá se abraçando novamente... tudo muito rápido na vida delas...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto de trabalhar com as crianças porque elas me fazem lembrar - para nunca mais esquecer - do ser humano melhor que eu já fui. De como eu já fui mais honesta comigo mesma e com os meus desejos e de como eu já fui menos egoísta e menos cheia de mágoas. Nesses 22 anos de vida aprendi muito, mas acho que desaprendi muito mais...</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-62843649566408485932013-04-28T15:50:00.000-07:002013-04-28T15:50:23.532-07:00Eparrei, Iansã <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na madrugada de hoje eu e o Rodrigo fomos assistir a Laranja Mecânica num
cinema da Augusta e saímos de lá umas 2h30 da manhã. Já meio perturbada pelo
filme, que eu assistira pela primeira vez, passei por uma experiência sem
dúvidas trivial, mas extremamente forte. O Rodrigo falou que queria ver escrito
o episódio pelo qual passamos, por isso sentei aqui para escrever sobre a
travesti que nos abordou na travessa da Augusta com a Paulista e nos pediu um
pacote de fraldas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu não gostei do filme, definitivamente. E não gostei de me lembrar
de todos meus amigos e amigas e conhecidos que cultuam aquele personagem
principal, o Alex. Na verdade acho que o que incomodou mesmo foi constatar que
a sociedade atual produz muitos Alex e um eterno desejo de vingança na população,
que no fundo é também meio Alex. Sei lá. Eu pensava na igreja, no Estado, conversava
com o Rodrigo sobre essas coisas todas e aí ela apareceu e fez com que tudo se
tornasse insignificante. Ah, medíocre classe média assistindo aos seus filmes-cabeça
na rua Augusta e pensando que isso é a vida...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu não sei o nome dela; ela tem um cabelo enorme cheio de
tranças e nos contou uma história um pouco cheia de detalhes demais para ser
mentira. Sinceramente falando, e sem medo de ser tachada de boboca, eu sempre
acredito nas histórias que me contam na rua. Tem um moço que pede dinheiro pra
mim todo dia no ponto de ônibus e conta a mesma história, e eu sempre acredito.
Acredito porque é plausível. Ele diz que seu barraco queimou no incêndio que
teve na favela ali perto e ele perdeu tudo e seus filhos passam fome. Isso não me
parece ficção científica. E de repente ele pode mesmo usar o dinheiro para
comprar droga, porque a vida dele é uma droga e isso também não é ficção
científica... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Antes de dizer qualquer coisa, antes do “boa noite”, ela faz
questão de repetir diversas vezes: “sou travesti e não sou ladrona”. Daí ela
contou brevemente que veio da Bahia para se prostituir em São Paulo, mas não
conseguiu. Disse que aqui queriam forçá-la a usar droga, coisa que ela não
faria de jeito nenhum. Contou tudo num minuto, com aquela naturalidade triste
de quem só conheceu a parte miserável da vida. Então ela explicou que não
queria dinheiro e nem comida, mas um pacote de fraldas. “Pros meus irmãos
gêmeos”. Comprei lá as fraldas, enquanto ela conversava com o Rodrigo sobre sua
família evangélica em São Paulo, que só a deixava entrar em casa se ela
trouxesse alguma coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas por que a história me deixou triste, se é tão trivial? Talvez
precisamente por isso. Antes de entrarmos na farmácia, ela me perguntou: “por
que aqui em São Paulo todo mundo foge da gente?”. Eu falei que deve ser por
causa do que as pessoas veem na televisão. Foi uma resposta estúpida, né? Eu devia
era ter pedido desculpas em nome de toda população paulista. Depois que ela foi
embora com as fraldas, continuamos, eu e Rodrigo, a descer a Augusta. E eu
observava as pessoas dormindo nos cantos como se fossem pedras enquanto os
adolescentes se matavam de beber e dar risada, festejando essa coisa
maravilhosa que é a vida – pra quem não é uma pedra. E eu conversava com o
Rodrigo sobre essa coisa bizarra que é gente ter medo de gente. As pessoas
fugiam daquela travesti como se ela fosse um tigre (e eu usei essa metáfora
com ele e depois sonhei com um tigre que falava e era muito sábio...).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao se despedir da gente, a travesti disse “Axé!”, ao que eu
respondi “Axé!”, e então ela disse que era filha de Iansã, sem que ninguém
perguntasse. Sem dúvidas foi uma informação relevante para mim, porque um dia
uma amiga sonhou que eu estava flutuando no mar, mas não era eu, era a minha
cabeça no corpo de Iansã, e eu achei aquele sonho muito legal <span style="font-family: Wingdings; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: Calibri; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-symbol-font-family: Wingdings;">J</span> Comprei um livrinho
sobre Iansã para saber mais sobre a Orixá e gostei muito do que li, sobre ela ser
tão valente e ser a mãe do entardecer. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Axé, minha querida. Me perdoa por não ter perguntado o seu
nome. Que Iansã te acompanhe sempre.<o:p></o:p></div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-70802887019726913562012-12-27T13:28:00.000-08:002012-12-27T13:29:36.517-08:00tempo<div style="text-align: justify;">
Então me vi lavando a louça e o paninho da pia exatamente como a Cristina, a moça que cuidou de mim desde o dia em que eu nasci até eu fazer uns cinco anos. Durante longo tempo, tudo o que eu almejava era fazer tudo o que ela fazia, do jeito que ela fazia: do trabalho de artes que ela terminava tarde da noite até o bolinho de chuva das tardes frias em que a gente brincava de lanchonete. Sou hoje mais velha do que ela era na época em que cuidava de mim, e bem mais desajeitada, acredito. Mas já lavo a louça, escrevo carta de amor, passo roupa, descasco batatas, desenho coqueiros, faço feijão... tudo aquilo que eu achava tão bonito e não podia fazer... quem sabe eu até daria conta de cuidar de um bebê. A vida já me exigiu tanto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Feliz ano novo e vida nova para quem aprendeu o significado de ser adulta. É ser tudo o que sonhou e se entristecer por perceber que a sublimação era aquela aparente incompletude, tão completa no seu desejo de ser. Porque se tornar gente grande é possível, embora pareça demorar uma eternidade, mas voltar a ser criança...</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-80065061682392961782012-11-19T15:01:00.000-08:002012-11-19T15:01:17.129-08:00Eu - Maiakóvski (1913)Nas calçadas pisadas<br />
de minha alma<br />
passadas de loucos estalam<br />
calcâneos de frases ásperas<br />
Onde<br />
forcas<br />
esganam cidades<br />
e em nós de nuvens coagulam<br />
pescoços de torres<br />
oblíquas<br />
só<br />
soluçando eu avanço por vias que se encruzilham<br />
à vista<br />
de cruci-<br />
fixos<br />
polícias<br />
<br />
(tradução de Haroldo de Campos)Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-78754658302037099452012-10-18T12:22:00.000-07:002012-10-18T12:22:29.787-07:00Minha humilde opinião sobre o segundo turno na cidade de São Paulo<div style="text-align: justify;">
Fico feliz por não ter que votar em São Paulo. Se o PSDB tem a política repressora encarnada pelo Telhada, "defensor dos direitos humanos" nas palavras de Serra, o PT é mandante de um dos grandes genocídios da nossa história lá em terras amazônicas. Entre um e outro, a nossa vontade é de escolher a morte, ainda mais quando nos deparamos com um Maluf-rota-na-rua no pacote do PT paulistano.</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez eu possa opinar com um pouco mais de propriedade sobre a educação, que é a minha área... tenho algumas considerações a fazer. A crítica direitista ao Haddad sempre bate num dos pontos mais positivos de sua gestão como ministro: o ENEM. É um vestibular bem menos excludente e permite que uma porção de gente pobre frequente a universidade pública. Isso eu vi de perto. O ProUni, por sua vez, é um crime que só favorece os barões da educação, e eu já manifestei minha opinião sobre isso tantas vezes que eu nem vou ficar me repetindo... Serra, enfim, como sempre, tem como mote de suas promessas para a educação a escola para formar peão. Ele só fala disso, podem conferir. Para Serra, pobre não pode sequer sonhar em frequentar o ensino superior e pensar além da caixinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
E a educação básica? Não nutro grandes expectativas sobre nenhum dos dois. Enquanto ministro, Haddad não teve um mínimo de atenção para com a educação dos pequenos ou daqueles com os quais temos uma dívida histórica: os adultos que não aprenderam a ler e escrever na idade dita adequada. O Brasil está longe de erradicar o analfabetismo. Serra, então... Serra e educação numa mesma frase é erro de concordância. O tucano é mestre em culpabilizar o professor e a "família desestruturada" pelo fracasso da escola pública. Para Serra, solução para professor que reivindica melhores condições de trabalho é tropa de choque. </div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu posso lembrar é que o PT tem a experiência bem-sucedida dos CEUs. São poucos e as vagas são limitadas, mas não deixam de ser uma boa experiência. Marta fez questão de levar piscina, aula de dança e teatro para quem nunca teve isso. E tal atitude é digna de nota. Tenho certeza que Haddad, se eleito, dará continuidade a tal política (populista? talvez... mas garante um pouco de cidadania a quem vive com o pé no esgoto).</div>
<div style="text-align: justify;">
Sábado passado eu estive em uma favela marcada para queimar. Mais dia, menos dia, seus moradores serão despejados em virtude da Copa. Não espero intervenção positiva nem de um e nem de outro candidato, visto que as empreiteiras financiam a campanha de ambos, mas creio que o PT será mais amigável na hora de negociar um plano alternativo com os moradores. Não porque o PT seja bonzinho, mas porque é o seu jeito de fazer política: garantindo a imagem de partido amigo do povo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dona Cleonice, moradora de tal favela, espancada pelo marido, sem comer há dois dias, com seu filho de 14 anos fora da escola, me perguntou se ela ainda era cidadã. "Eu voto como qualquer outro, não voto? Eu vou votar no Haddad". Eu não sabia o que dizer para a Dona Cleonice. Meu desencanto só me permitiu sorrir e abraçá-la, enquanto pensava em como pode ser perversa a democracia representativa.</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-62217944312971479042012-10-14T18:33:00.000-07:002012-10-14T18:33:28.142-07:00A revolução das formiguinhas <div style="text-align: justify;">
Essa é uma história parcialmente baseada em fatos reais que eu escrevi para crianças. Como vocês poderão perceber, eu e minha mãe também somos personagens. Estava num caderninho, esquecida, mas achei legal compartilhar. Foi escrita depois da Páscoa, eu acho, e transcrevi sem fazer grandes modificações. Achei mais honesto. Qualquer semelhança com Orwell não é mera coincidência. Por ser pensada para crianças, minha pequena fábula tem parágrafos curtos, coisa que eu não gosto muito de fazer, e, como de costume, escrevi de maneira bastante simples. Espero sugestões :-)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
CAPÍTULO PRIMEIRO: ESTOCANDO MANTEIGA E RAIVA</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi um verão de muito trabalho para as formiguinhas, sobretudo durante as festas humanas de fim de ano.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na casa de Carolina, a ceia era bastante modesta, mas a Dona Maria tinha grande coração e deixou sobre o balcão, pensando justamente nas formiguinhas, duas grandes castanhas. Só aquelas castanhas já garantiam, pelo menos, dois meses de estoque para o inverno.</div>
<div style="text-align: justify;">
E trabalharam, trabalharam e trabalharam, as pobres formiguinhas, enquanto a rainha gorda ficava só dando ordens. </div>
<div style="text-align: justify;">
Chegou a Páscoa* e a família de Carolina foi viajar. </div>
<div style="text-align: justify;">
As formiguinhas, trabalhadoras que eram, aproveitaram a deixa para investir nos ovos de chocolate e bombons que a família deixou em casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Passaram-se dois dias. As formiguinhas já tinham conseguido levar para o formigueiro metade de um grande bombom com recheio de avelã.</div>
<div style="text-align: justify;">
Então, aconteceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sem que tivessem tempo de fazer nada para se defender, as formiguinhas viram muitas de suas companheiras serem esmagadas e afogadas... A família havia retornado e Carolina, menina gulosa, foi direto para a caixa de bombons onde as formiguinhas estavam trabalhando. Quase que por reflexo, devido ao susto, Carolina jogou na pia o bombom cheio de formiguinhas e lavou as suas mãos, também cheia de formiguinhas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Seres humanos têm uma mania curiosa de pensar que só eles sentem dor. Decerto sentiram muita dor, as formiguinhas assassinadas naquele fim de tarde, mas a dor delas não saiu no jornal. Exceto na Gazeta Formigueiro, numa chamada de vinte segundos. </div>
<div style="text-align: justify;">
A morte das formiguinhas no trabalho é tão rotineira que se tornou... banal. A Formiga Rainha não paga às famílias das formiguinhas mortas um seguro de vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Carolina e sua mãe, no entanto, atormentadas pela culpa, deixaram sobre o balcão da cozinha um grande bombom recheado de avelã; Carolina até cogitou escrever "me perdoem" num cartão, mas pensou bem e viu que era uma ideia bastante estúpida. </div>
<div style="text-align: justify;">
As formiguinhas ignoraram solenemente o bombom. Até hoje não se sabe se por orgulho ou por medo. Ninguém, obviamente, contou à Formiga Rainha sobre essa recusa.</div>
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Chegou o inverno e o formigueiro estava fartamente abastecido.</div>
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Às formiguinhas trabalhadoras foi distribuído farelo de pão, enquanto a Rainha e os demais membros da nobreza comiam manteiga, castanhas e chocolate.</div>
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"Isso definitivamente não está certo", pensava Eleonor, uma formiguinha cujo pai e irmã haviam morrido enquanto traziam alimento para o formigueiro.</div>
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<br /></div>
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CAPÍTULO SEGUNDO: ORGANIZAÇÃO</div>
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<br /></div>
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As formiguinhas trabalhadoras foram convocadas para uma reunião.</div>
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Eleonor falava sobre justiça e suas palavras soavam como música nos ouvidos cansados das formiguinhas trabalhadoras. Cada uma delas tinha pelo menos uma história de perda e tristeza para contar. A jornada de trabalho era muito perigosa: era preciso atravessar uma pia onde qualquer passo em falso significaria a morte por afogamento; havia uma grande aranha com uma grande teia; havia o perigo de se prender no melado; havia, enfim, os humanos, tão estabanados e grandes.</div>
<div style="text-align: justify;">
As formiguinhas montaram um documento em que exigiam melhores condições de trabalho e entregaram à Rainha. A principal reivindicação era o fim da jornada diurna de trabalho (momento em que os humanos estavam acordados).</div>
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A Formiga Rainha leu o documento. Não acreditou e leu de novo. Como assim? Ela estava realmente muito brava com toda aquela subversão. Mandou prender a Eleonor. Disse que aconteceria o mesmo com quem mais a desobedecesse. Distribuiu um pouquinho de manteiga entre as formiguinhas trabalhadoras, para que elas não a detestassem tanto. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, bem lá no fundo, as formiguinhas sabiam que aquilo tudo estava muito, mas muito errado...</div>
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<br /></div>
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CAPÍTULO TERCEIRO: REVOLUÇÃO</div>
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<br /></div>
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Já estava próxima a Primavera e o estoque das formiguinhas trabalhadoras foi se acabando. Mas ainda estava muito frio para sair em busca de mais. </div>
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As formiguinhas se dirigiram, então, aos aposentos da Rainha. </div>
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Elas já estavam bastante aborrecidas com aquela situação toda, nem era só a falta de comida, elas também não se conformavam com a prisão da Eleonor. </div>
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A Formiga Rainha disse que nada ia fazer, e que elas não mais a incomodassem com essas histórias. Chamou os guardas. </div>
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As formiguinhas trabalhadoras não podiam acreditar... Trabalharam tanto durante a Primavera, Verão e até no Outono, e agora a Rainha lhes negava um punhado de pão?</div>
<div style="text-align: justify;">
Era inadmissível.</div>
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Era insustentável.</div>
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Juntas foram todas as formiguinhas até a delegacia para soltar a Eleonor. Elas falaram e não foram ouvidas. Falaram mais uma vez e mais uma vez não foram ouvidas. Então gritaram. Gritaram e quebraram aquilo tudo. A Gazeta Formigueiro ia dizer que foi depredação do patrimônio público, mas elas não estavam nem aí. Libertaram a Eleonor. </div>
<div style="text-align: justify;">
Foram todas juntas até os aposentos da Rainha e cortaram-lhe a cabeça. </div>
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Dividiram todo o chocolate, a manteiga e as castanhas que a rainha gorda escondia para comer sozinha. Só precisaram trabalhar no verão. Agora, pela primeira vez, para elas mesmas.</div>
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<br /></div>
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*Festa humana em que se celebra o renascimento de alguém muito influente com distribuição de chocolates.</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-32024641403069992292012-09-10T12:53:00.002-07:002012-09-10T12:53:47.520-07:00sobre aeroportos <div style="text-align: justify;">
O aeroporto é o lugar mais triste do mundo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje Ramon chegou de viagem e fomos lá buscá-lo. Tanta mala, tanto sonho, tanto souvenir, tanta fotografia, tantos amigos, tantas línguas; nossa, um aeroporto é cheio de tudo. Eu me sinto cheia de nada. Existe pouca coisa dentro de mim, além de espera.</div>
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<br /></div>
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Às vezes dói ficar aguardando o sinal esverdear para a vida que a gente sempre sonhou. Sensação de uns 90 anos de frustração nos meus ombros de 21...</div>
Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-47453880478682933882012-08-02T10:27:00.002-07:002012-08-02T10:27:57.934-07:00tratamento pra solidão<div style="text-align: justify;">
Peguei costume de escrever num caderninho, se possível pela manhã, todos os meus sonhos. Bem rápido, antes de esquecer. Vou compartilhar um deles... </div>
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<br /></div>
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Sonhei que estava com dor de cabeça e o Rodrigo me levava até um hospital. A gente ia correndo, meio flutuando, por uns caminhos desertos que eu nunca conheci. Então chegamos lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
Era um hospital com estrutura de hospital mesmo, normal, só que os pacientes eram bizarros: uma galera com o cérebro para fora da cabeça, com a pele toda vermelha, com umas feridas horríveis... Eu, intrigada com aquilo tudo e esperando meu atendimento, que nunca acontecia, perguntei à médica que por ali passava: "qual a especialidade desse hospital?". A médica tranquilamente respondeu: "Solidão. Aqui a gente trata da solidão."</div>
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<br /></div>
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Vou parar por aqui. O interessante é que no dia em que sonhei isso o meu vizinho se matou com um tiro na boca. Será que ele foi se tratar nesse hospital aí? </div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-1079410522832066062012-06-07T17:18:00.000-07:002012-06-07T17:18:58.320-07:00empregue-me e não se arrependerá<div style="text-align: justify;">
Vejam bem, agora eu tenho um curso superior. Sei sistematizar algo de Marx, algo de Piaget, algo de Durkheim, algo de Paulo Freire, algo de Vygotsky. Eu escrevo direitinho, eu entendo bem inglês, tento falar, se for preciso, meu francês é <i>super</i>, meu espanhol é bacana. Eu sou uma contadora de histórias profissional. Eu acordo cedo sem maiores problemas. Eu gosto de descobrir coisa nova, estou sempre disposta a escutar. Eu sou criativa, juro, e eu fico mais criativa ainda quando junto das crianças. Eu tenho uma porção de jogos legais de alfabetização, e sou paciente. Eu nunca parei de estudar, nunca parei de aprender, nunca deixei de ensinar. Sou curiosa demais, demais, demais. Absorvo com igual amor e dedicação tudo aquilo que posso aprender com o intelectual ou com a trabalhadora rural. Sou um pouco teimosa, distraída e desorganizada, mas isso a gente vai melhorando, né? Eu já trabalhei bastante apenas pela causa, mas, acreditem, preciso pra caramba de dinheiro. Pra caramba. </div>
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<br /></div>
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Preferências profissionais:</div>
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Professora de educação infantil, ensino fundamental I (antiga 1ª a 4ª série) e EJA;</div>
<div style="text-align: justify;">
coordenadora pedagógica em alguma ONG que trabalha com sujeitos encarcerados ou moradores de rua;</div>
<div style="text-align: justify;">
guia pelas cachoeiras da Chapada dos Veadeiros;</div>
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guia de turismo em Olinda;</div>
<div style="text-align: justify;">
caseira num sítio bonito (esqueci de mencionar minhas habilidades com a botânica);</div>
<div style="text-align: justify;">
escritora de livros infantis;</div>
<div style="text-align: justify;">
astronauta.</div>
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<br /></div>
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Infelizmente, não aceitarei ofertas para vagas de mergulhadora. Morro de medo do fundo do mar. </div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-71281787346687239992012-05-21T12:50:00.001-07:002012-05-21T12:55:47.607-07:00isso não é sobre a Xuxa<div style="text-align: justify;">
Em 18 de maio se celebra o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Exatamente em 18 de maio eu li um relato repugnante envolvendo um motorista de ônibus da UNIFESP e uma criança da qual ele abusou covardemente, em pleno exercício de sua função. Prefiro não dar detalhes sobre o ocorrido enquanto os fatos não são apurados, mas deixo aqui meu total repúdio por esse homem, que representa tantos outros homens, e por toda essa injustiça social que condena milhões de meninas e meninos à absoluta falta de cuidados. </div>
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Ontem, em rede nacional, horário nobre, a Xuxa revelou que sofreu abuso da infância até a adolescência. É claro que no mesmo momento apareceram todos os especialistas do twitter e do facebook opinando sobre o caso. Que, ah, se ela quisesse lutar contra o abuso sexual, devia ter feito isso antes. Tá em crise e quis chamar a atenção. Outros preferiram analisar psicanaliticamente o comportamento infantilizado da Xuxa. O que todo mundo parece não ter notado, talvez devido à edição sensacionalista do Fantástico, é o quanto o abuso é surpreendentemente cotidiano. Acontece com mais gente do que podemos imaginar. A Xuxa ter ido lá expor seu sofrimento em rede nacional faz dela, sim, uma mulher corajosa. Não importa se é a Xuxa, não importa se é na Vênus Platinada. Aliás, importa, sim, quando pensamos na repercussão que o quadro teve e no tanto de gente que ela possivelmente influenciou a falar sobre o assunto.</div>
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Outro aspecto importante do depoimento foi o pedido de atenção àquilo que as crianças nos dizem. Precisamos compreender, inclusive, o que nos diz o silêncio delas... Tão significativo. "Se perguntarem hoje", disse a Xuxa, "por que aconteceram as coisas comigo, eu ainda vou achar que foi minha culpa". E acontece assim com todas as crianças humilhadas. Não há quem consiga viver em paz em meio a tanta culpa internalizada e solidão. É preciso abrir os olhos e ouvidos, prestar atenção nas crianças do bairro, da família, nas crianças que vivem na rua... Isso não é sobre a Xuxa e os seus problemas de relacionamento. Isso é sobre quantos/as adultos/as atormentados por uma infância ruim em cada geração a gente tem o poder de evitar. Isso é sobre quantas crianças invisíveis a gente pode - e deve - perceber e ajudar, todos os dias.</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-14359573809143886252012-01-22T12:14:00.000-08:002012-01-22T13:04:58.881-08:00Pinheirinho é do tamanho do meu coração<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVvFdrzkV-YD3JSSBytzwhix_gLez73MQ1ymhndWqhIMJCjr8rCIR8fd6gQoXFSzsTNajofTfYsKFTAk4QXS-7wsdm_Kh79Wlag79JpFjzLyp8OSl4xyv0lcAFJ9EYYxnjfE3hi5fe5lU/s1600/crian%25C3%25A7as--.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVvFdrzkV-YD3JSSBytzwhix_gLez73MQ1ymhndWqhIMJCjr8rCIR8fd6gQoXFSzsTNajofTfYsKFTAk4QXS-7wsdm_Kh79Wlag79JpFjzLyp8OSl4xyv0lcAFJ9EYYxnjfE3hi5fe5lU/s320/crian%25C3%25A7as--.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5700553740018444626" /></a><div style="text-align: center;"><span >Foto: Carlos Latuff</span></div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-79123078922962439292012-01-03T11:12:00.001-08:002012-01-03T11:25:32.868-08:00Férias<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQn-0yeMUIbQxdTsflxBE86NrDmwE8pn5EaRk3oHijohAbAcVPjEDmS7_tliFpMC0t0UJV4MNjTUliqJLzNzrHp9vauP0DxKvCXY8YCbAiNLCYLprZsu4wp6s9bbYGr87TcnlffOvrDiU/s1600/haikita.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQn-0yeMUIbQxdTsflxBE86NrDmwE8pn5EaRk3oHijohAbAcVPjEDmS7_tliFpMC0t0UJV4MNjTUliqJLzNzrHp9vauP0DxKvCXY8YCbAiNLCYLprZsu4wp6s9bbYGr87TcnlffOvrDiU/s320/haikita.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5693487123616374146" /></a><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs0_fNKh2Y5mzKZU4P8BiybUlxJDp1ziwgDD1RlYoFdWcLjkUuP0HECfX27GnniZQR47x9nFT00F5_aEnrcx3-SUIO4Q9gp0-8DKD2V9KGthU7ahc-5BsS5PUDGJzhhFsovPrnMmamRsQ/s1600/uvas.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs0_fNKh2Y5mzKZU4P8BiybUlxJDp1ziwgDD1RlYoFdWcLjkUuP0HECfX27GnniZQR47x9nFT00F5_aEnrcx3-SUIO4Q9gp0-8DKD2V9KGthU7ahc-5BsS5PUDGJzhhFsovPrnMmamRsQ/s320/uvas.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5693486456569084162" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOtJc9nYa3mZqHAdJsjw1wk7UCvbmiyrKlmibS8Gr7oNIxFxi6yixcPPsTVyh0PankOT6J2MXMeI0nA6TaXeSXmOz7K-_230j8pHsA5fKAlojbzgF1YPGS_YC8_SIO37lbiveWEjPH89k/s1600/begonia.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOtJc9nYa3mZqHAdJsjw1wk7UCvbmiyrKlmibS8Gr7oNIxFxi6yixcPPsTVyh0PankOT6J2MXMeI0nA6TaXeSXmOz7K-_230j8pHsA5fKAlojbzgF1YPGS_YC8_SIO37lbiveWEjPH89k/s320/begonia.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5693486116287304418" /></a><br />Quem não tem Olinda vai de quintal...Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-64639920494959940662011-12-27T10:46:00.000-08:002011-12-27T11:16:48.975-08:00Balanço de Carolina<div style="text-align: justify;">Quando eu prestei vestibular, lá em 2007, eu tinha dezesseis anos. Passei e comecei o curso de Pedagogia com dezessete. Muita gente já demonstra extrema maturidade com essa idade, já trabalha e tudo. Eu não. Eu, como dizia meu pai, só queria <i>iê iê iê coca-cola</i>... Eu nem queria estudar. Eu nem sabia o que fazer com um curso superior. Meu sonho, à época, era pegar uma mochila e sair por aí. Como se para isso eu só precisasse do meu espírito sagitariano aventureiro...</div><div style="text-align: justify;">Eu era uma menina um pouco melancólica e cheia de espinhas. Queria nunca mais ter rotina. Bom, querer eu ainda não quero, mas... A faculdade foi me trazendo algumas responsabilidades com as quais não estava habituada a lidar, como trabalho para casa! Veio uma pesquisa com uma professora bem durona, e eu voltei a estudar francês. Vieram alguns amores que não deram certo. Veio muito conhecimento e muito movimento estudantil pelo caminho. </div><div style="text-align: justify;">Veio setembro de 2009. Passarinho que era, meu pai caiu bem devagarzinho e leve, sem espanto. E ninguém sofreu mais do que eu. </div><div style="text-align: justify;">Ainda bem que o tempo passa. Veio um partido político, meus sonhos até couberam dentro dele, por um tempo, e isso me preencheu. Veio uma cachorrinha que come todas as minhas flores, veio um corte moderninho de cabelo, veio uma porção de cidades por esse Brasil que eu tive a alegria de poder conhecer, veio a Catalunha, veio um até um namorado! E como me ama, o namorado. Ele é, mais ou menos, digamos, o meu avesso. Ele fica fascinado com o modo como eu conto as minhas aventuras. De como eu quase morri afogada em Porto de Galinhas, de como eu sobrevivi a tantos lanches vencidos, de como eu quase fui atropelada por um caminhão, como eu andei por horas a fio sob o sol em busca de água. De repente minha vidinha toma contornos tão bonitos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Lá vem o trem 2012 e eu já estou de malas prontas. </div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-14027053862530669872011-11-13T12:55:00.000-08:002011-11-13T13:18:35.242-08:00Marx e Peuchet<div style="text-align: justify;">"... e até o próprio amor à vida, essa força enérgica que impulsiona a personalidade, é frequentemente capaz de levar uma pessoa a livrar-se de uma existência detestável.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">[...]</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A classificação das diferentes causas do suicídio deveria ser a classificação dos próprios defeitos de nossa sociedade"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Indico a leitura... <a href="http://www.boitempo.com/livro_completo.php?isbn=85-7559-078-2">"Sobre o suicídio"</a>, essencial na compreensão do pensamento de Marx para além das questões econômicas; fundamental para a discussão sobre o patriarcado que faz das mulheres as suas maiores vítimas. </div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-48721030999271256102011-11-03T19:45:00.001-07:002011-11-03T20:08:52.224-07:00falta pouco para eu "me formar"<div style="text-align: justify;">Eu gosto muito dessa letra que parece letra de máquina de escrever. Aliás, uma máquina de escrever foi um dos presentes mais legais que eu já ganhei nessa vida. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje eu li todos os textos que deveriam ser lidos e terminei um capítulo do meu TCC, que caminha a passos largos para o sucesso. Quer ir me ver? Minha defesa vai ser na primeira semana de dezembro. O título do meu trabalho é "Do ideário socialista à prática de se passar a mão na cabeça de bandido: a vida da Carolina é uma doidera". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recebemos na UNIFESP a ilustre visita do REItor, uma figura absolutamente deprimente que fugiu de todos nós, estudantes, como se fosse uma ratazana. Nem vou perder meu tempo escrevendo sobre esse escroque. Na verdade eu só citei aqui porque foi um acontecimento do dia e eu queria chamar o Albertoni de "ratazana" publicamente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje eu vou ver Pearl Jam. Tô sentindo que eles vão tocar todas as músicas que eu pedir, só porque eu fui uma ótima menina no decorrer desse ano. Meu anjinho Rodrigo que o diga...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">(ps.: é mais fácil acreditar no título do meu trabalho ou no meu comportamento inquestionável durante 2011?)</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-17761000482660691032011-10-27T18:01:00.000-07:002011-10-27T18:44:59.302-07:00preceque eu sinta menos ódio, e seja paciente<div><br /></div><div>que eu aprenda a perdoar</div><div><br /></div><div>que eu crie intimidade comigo mesma</div><div><br /></div><div>que eu sinta menos ódio, e seja paciente</div><div><br /></div><div>que eu me culpe menos </div><div><br /></div><div>que a saudade me abrace como uma amiga</div><div><br /></div><div>que eu sinta menos ódio, e seja paciente </div><div><br /></div><div>que a alegria me visite de vez em quando</div><div><br /></div><div>que nada me pese, nem a roupa</div><div><br /></div><div>que eu sinta menos ódio, e seja paciente</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-17040091899811340312011-10-05T21:48:00.000-07:002011-10-05T22:17:00.742-07:00noite passada eu sonhei<div style="text-align: justify;">Noite passada eu sonhei com meu pai. Ah, vocês vão dizer, lá vem ela de novo! Acreditem, nem eu me aguento mais. Chega, Carolina, chega de fazer deste blog um espaço para se falar da morte do seu pai. Eu tento mudar o assunto, juro que tento. Mas está na minha cabeça o tempo inteiro. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por favor, por tudo que é sagrado, não fiquem assim quando a morta for eu. Por favor, sigam suas vidas e não fiquem falando de mim a cada cinco minutos, não percam horas de sono chorando. Passa tudo tão depressa e é tão pesado, tão pesado. Como dizia a menina de um livro que eu li certa vez, quando já se tem seu quinhão de tristezas, não se deve procurar mais. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O sonho, eu preciso dizer, foi grandioso. Como todos os outros que tive com ele (foram mais ou menos 730). Ele voltava para ficar comigo por um dia e eu -- fraca -- não conseguia aproveitar, não conseguia nem falar com ele direito. Só ficava pensando: "daqui a pouco ele vai embora, e como vai doer, daqui a pouco ele vai embora de novo..." enquanto as preciosas horas iam passando e ele fazia suas caretas engraçadas para mim.</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-51644708399013813832011-09-05T19:34:00.000-07:002011-09-05T19:56:00.393-07:00aconteceu agora<div style="text-align: justify;">As minhas mãos ainda estão tremendo, o coração acelerado, mas quero experimentar a sensação de escrever neste estado. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assitia a um filme quando ouvi os gritos de "Socorro, ah, meu Deus!!". O drama saiu da TV e estava na minha rua... Um homem só de cueca com sua batata da perna completamente pendurada agonizava e gritava de dor na frente da minha casa. O portão da vizinha violado. Em poucos minutos a rua já estava cheia, porque ele gritava muito alto, e os buchichos começaram. Gente falando que era bem feito, e que tinha é que ter machucado mais, quem manda ficar pulando no portão dos outros pra roubar. Interrogatórios absolutamente descabidos para o momento atormentavam o já atormentado moço (ressalto: só de cueca). Completamente alterado. Afirmando que viu alguém roubando sua moto, e que ele morava na nossa rua. Ninguém acreditando, porque ninguém o conhecia. "Essa bosta vem morrer na frente da minha casa!", disse o senhor que vai à missa todos os domingos. Chamei a ambulância e, trinta minutos depois, quem chegou foi a polícia, também cheia dos interrogatórios inapropriados. "Não importa o que ele fez, ele precisa de assistência", argumentei pro policial, profissional totalmente despreparado que não tirava a mão da sua arma. Uma arma contra um rapaz drogado de cueca se arrastando pelo chão com a perna pendurada. Um monte de juízes em volta.</div><div style="text-align: justify;">A Maria já não aguenta ver gente passando mal assim, e ver tanta maldade. Começou a tremer e tremer e a lembrar de quando era o meu pai que estava caído no chão, nas mãos dela. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E chegou a ambulância! O rapaz enfim conseguiu dizer onde ficava a casa onde morava (para a Maria, a única que foi falar com ele sem desconfiança) e outros vizinhos explicaram que ele não pulava o portão para roubar. Deu um soco pedindo ajuda e amassou a chapa de ferro. Tudo esclarecido. Os olhares de reprovação permaneciam, como quem diz "drogado merece isso". Como tem gente doente em volta de mim.</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-69473477847474438382011-08-12T19:10:00.000-07:002011-08-12T19:21:29.939-07:00para criar passarinho<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJCc8gXnp2MPdfP4rYbaxUy3GE2hiY97OvPic377myucXlW2GV5vekDjuoFeKoc8OQqkSKRG8J81zUGC9YfDNJwhhlsXxRVO39EmLg9VU1lhaJ0pECy2Nuj29WVFms99HeiqonTQ6WF-s/s1600/papai.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 214px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJCc8gXnp2MPdfP4rYbaxUy3GE2hiY97OvPic377myucXlW2GV5vekDjuoFeKoc8OQqkSKRG8J81zUGC9YfDNJwhhlsXxRVO39EmLg9VU1lhaJ0pECy2Nuj29WVFms99HeiqonTQ6WF-s/s320/papai.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5640157257427991874" /></a>
<br /><div><div style="text-align: justify;">Já que está chegando o dia dos pais e esse será o meu segundo dia dos pais sem pai, comprei um livro para a parte dele que ainda vive em mim. Diz o livro:</div><div style="text-align: justify;">
<br /></div><div style="text-align: justify;">"Para bem criar passarinho há que se sonhar borboleta, anjo ou estrela cadente. É importante ter imensas intimidades com o nada, admirar o vazio e um especial encantamento pelo azul que existe muito depois das nuvens, infinito adentro.</div><div style="text-align: justify;">(...)</div><div style="text-align: justify;">Para bem criar passarinho é necessário prender o universo - dos mares ao firmamento - em uma gaiola respirando azul e infinito por todos os lados. É seguro declarar que nenhum espaço é demais para os voos. Para bem criar passarinhos é preciso experimentar as asas, sempre."</div></div><div style="text-align: justify;">
<br /></div><div style="text-align: right;"><i>Bartolomeu Campos de Queirós</i></div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-58509536404251498892011-07-29T21:37:00.000-07:002011-07-29T22:30:04.076-07:00julho<div style="text-align: justify;">"A menina tá descendo".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eu passo por um aparelho que apita, por uma mulher fardada que me revista, deixo todos os meus pertences, passo por um grande portão com um grande cadeado, há um pequeno jardim, eu já posso ver as primeiras calças amarelas a trabalhar sob o sol de inverno. Passo pela administração, onde trabalham as calças amarelas que andam rebolando e usam maquiagem. Mais um portão grande com um cadeado grande, mais um, mais um... chego ao setor da Educação, onde há calças amarelas responsáveis por arrumar aquela papelada toda. Mais um portão grande e estamos na "gaiola". Passamos pelo maior corredor do mundo, onde há calças amarelas andando em sentidos contrários ao nosso. E então lá estou eu. A escola do presídio, exatamente no centro dos pavilhões de moradia. O carcereiro mais boa gente do Brasil me diz que eu posso ficar o tempo que eu precisar, e se retira. Só eu e as calças amarelas. </div><div style="text-align: justify;">Eu falo do meu trabalho, eles falam de suas vidas, eu tento absorver tudo, tudo, tudo, mas eu não anoto nem gravo nada, eu realmente não consigo... É forte, forte, forte. Meninos, vamos sair dessa sala fria e ir ali tomar um sol? Eu não me importo com tudo o que vocês já fizeram. Menina de cabeça comunista e burra, presta atenção! Enquanto você pensa bobagens eles já falaram uma porção de coisas. </div><div style="text-align: justify;">Por que disseram que eu descia, se não há descida alguma?</div><div style="text-align: justify;">Uma das calças amarelas me diz que sente saudade de sentar na calçada de casa e de conversar com os vizinhos; me fala de como é pesado o ambiente em que vive, e de todas as acrobacias que desenvolve para lidar com a culpa e a solidão. Sou acometida do sentimento mais terno do mundo e por uma fração de segundo me movo em sua direção, no impulso de abraçá-lo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todos os dias, depois do presídio, me sinto como uma criança que chora sem saber apontar onde dói.</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-80205211217584631812011-06-23T21:54:00.000-07:002011-06-23T22:11:50.895-07:00Campanha "vamos deixar a Maria feliz"<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmJROkZxgAlzntDczhFFyVxW3RA0dzY_95prFFO0kJbfob5d1PMmIuM-V-tiHPt2_pxopAu3Kcdn0yRw0VJMWJAgLUXXARilgCOpNvMyO52_w8y8Eu4NFqV3CvHGrMNA7-EUgHpSjtzR4/s1600/mariamaria.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 232px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmJROkZxgAlzntDczhFFyVxW3RA0dzY_95prFFO0kJbfob5d1PMmIuM-V-tiHPt2_pxopAu3Kcdn0yRw0VJMWJAgLUXXARilgCOpNvMyO52_w8y8Eu4NFqV3CvHGrMNA7-EUgHpSjtzR4/s320/mariamaria.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5621645869198007282" /></a><br /><div style="text-align: justify;">E lá se vão quase dois anos que o nosso menino foi embora, e a Maria chora todos os dias. Ora, já nasceram muitas crianças depois disso, já vingaram muitas mudinhas, mas a Maria continua chorando. Já compramos esmaltes de cores diversas, já dei a ela panos coloridos, já aprendi a fazer malabares, já trouxe uma catalã para morar conosco... e a Maria continua a chorar.</div><div style="text-align: justify;">Estou recolhendo sugestões e presentes para a mais doce senhora que eu já conheci... mandem vídeos, contem uma piada, elogiem o bolo dela, passem uma tarde com a gente...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na esperança de que ela fique boa logo para me acompanhar em todas as aventuras a muitos metros acima do mar,</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Carolina</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-20974906122976139162011-04-26T10:29:00.000-07:002011-04-26T11:35:11.163-07:00só mais uma reflexãozinha que não diz nada de novo<div style="text-align: justify;">Então eu me encontrava conversando com o senhor responsável pela faxina dos banheiros do CEU (<a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI204422-15223,00-CADE+A+UNIVERSIDADE+ANUNCIADA+AQUI.html">espaço da prefeitura utilizado de forma indevida pela UNIFESP em Guarulhos</a>), e ele lamentava, com uma ponta grande de rancor, o descaso dos alunos e professores para com o seu trabalho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Analisando essa elite intelectualizada <span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 15px; ">– </span>e aqui também está inclusa a pretensa vanguarda da revolução unifespiana <span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 15px; ">–,</span> me deparei com uma galera que se diverte à beça com preconceito linguístico e acha o fim da picada todas as músicas que se escutam no Pimentas, as roupas que as moças usam no Pimentas, os restaurantes do Pimentas... E essa galera não vê a hora de pegar o diploma e dar no pé, de preferência para fora do país. Porque o estágio nas escolas do Pimentas, Deus me livre, adolescentes sem nenhuma educação, crianças piolhentas, professoras mal preparadas!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda bem que a sabedoria do povo se encontra bem longe desse conhecimento podre da academia, que é para não se envenenar.</div>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2080501591840507853.post-34305699865714387192011-04-04T09:46:00.000-07:002011-04-04T18:34:04.461-07:00estória para alegrar manhãs frias e chuvosas<div style="text-align: justify;">Uma vez eu conheci um mundo que fica lá do outro lado, tive que andar duzentos mil quilômetros.</div><div style="text-align: justify;">Foi lá que eu encontrei o caracol-bola-de-boliche. Ele era mais ou menos assim: [é preciso modelar na massinha para que vocês entendam bem].</div><div style="text-align: justify;">Lá também tinha a cobra-palito, o peixe-corda e o cachorro-mochila. O cachorro-mochila era o carteiro desse lugar. Ah, mas eu só conheci ele nos anos 60, quando eu era um bebê.</div><div style="text-align: justify;">Nesse mundo existia o elefante-mega-gigante, ele tinha uma perna cheia de espinhos, mais ou menos assim: [ah, a massinha é muito ilustrativa, queria ter tirado uma foto]. Para matar o elefante-mega-gigante eu demorei mil anos! Precisei de um martelo gigante e de um alicate.</div><div style="text-align: justify;">Eu conheci lá nesse mundo o caranguejo-borracha e o papagaio mochila. Esse papagaio não trabalha como carteiro, ele só fica na escola.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-style: italic;"><div style="text-align: justify;">Lá tem escola?</div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sim, mas só pros animais! Aí, teve um dia que eu vi o papagaio-espinafre e o macaco-espeto... era mais ou menos ass... <span style="font-style: italic;">(chega o seu pai para buscá-lo)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="color: rgb(204, 0, 0); font-style: italic;"><div style="text-align: justify;">A saga foi vivida pelo Thiago, menino de quatro anos. Pedi permissão para escrever para vocês. Quero saber como termina (e se termina), vou ver se amanhã ele libera a continuação! Aí eu conto por aqui.</div></span>Ana Carolinahttp://www.blogger.com/profile/14424940787788525229noreply@blogger.com4