segunda-feira, 5 de abril de 2010

chuva

– Delícia de garoa!
– Tá doida, mulher?

Se na vida eu nunca fui dada às fortes e turbulentas relações interpessoais, posso afirmar com certeza que com a chuva sempre foi diferente, e o que sinto por ela é difícil de narrar!
Seria impossível mapear ou dizer "foi naquele dia, com o Ramon, brincando na correnteza.... naquele dia!"; nunca tive pretensão de fazê-lo...
Mas acho que na semana retrasada eu consegui verbalizar um pouquinho da graça e magia que vejo nos dias chuvosos. Foi bem naquela hora fatídica, 18h, sexta-feira, a galera louca pra voltar pra casa... E dá-lhe "que merda, essa chuva agora!", "é hoje que eu não chego em casa!". Gente, só uma coisinha: o trânsito não é culpa da chuva. É culpa dos carros. Os carros são invenções humanas, logo, a culpa é do danado do bicho-homem.
Aí pensei assim: o dia de chuva (mais precisamente, o dia que acaba em chuva) é muito caro para mim porque eu preciso de estímulos para continuar, desde sempre, desde a época do meu primeiro livro, do primeiro bolinho de chuva... E quando as gotas caem em mim, e quando eu olho pro céu e elas todas vêm bem rápido e não me dão tempo pra pensar em mais nada, só nelas, eu sinto uma coisinha tão boa dentro de mim, uma vontade de dar risada, chego até a esquecer de como é duro e cheio de sofrimento, esse mundo vasto mundo... Chega a ser uma alegria, sim, alegria, daquelas que a gente só vive... e depois esquece. E a gente não esquece porque é ilusório, quero dizer, a sensação de paz é sempre verdadeira. O que acontece é que a vida dá umas pancadas na gente, e a gente fica um pouco ligeira e tem medo de dizer "tá tudo bem, agora..."
Que linguagem confusa, quantos rodeios para explicar uma questão tão simples... A chuva traz com ela algo de grande, de renovação, de esperança, de "continua, eu tô com você". Eu, otimista que sempre fui, boto muita fé na chuva. E a chuva bota muita fé em mim. Sem querer deixar essa reflexão mais difícil de entender, gostaria de dizer que hoje eu também parei pra pensar nos dois enterros: vô e pai. Choveu tanto no enterro do meu avô, uma tempestade daquelas de cinema, sabe? No dia do velório do meu pai fez sol, choveu só no dia seguinte. E uns dias depois, quando ele foi cremado. Aí me disseram: "quando chove, é porque a pessoa foi pro céu". "Ah", pensei, "esse pessoal fica inventando estória pra amenizar a angústia da gente". Que pessoa amarga que eu fui, por pensar assim.
"Carolina, Carolina... Guarda esse choro pra quando eu morrer."

Carolina, Carolina... Joga no mar as cinzas do seu pai, nas águas com gosto de lágrimas, que Deus vai te mandar água doce todos os dias em que você estiver sozinha e triste, porque da sua dor e da sua paz ninguém mais sabe – só você.

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