domingo, 25 de abril de 2010

Tombou devagarinho como uma árvore tomba

Hoje um camarada muito boa gente foi dar um salve pro meu pai lá no céu. O Jonas.
Meu carinho pelo Jonas começou quando eu era bem pequena e ele falou ao meu pai que era o Padre o motorista do misterioso carro que atropelou meu cachorro. Minha desavença com o dito cujo padre também começou por aí.
Ninguém nunca botou muita fé no que o Jonas dizia, mas meu pai botou. Sempre. E meu pai gostava de pregar peças nele... Como o fazia com todo mundo. Dizia ao Jonas: "ei, tá vendo aquelas grades lá na casinha do fundo do meu quintal? lá é uma prisão, tá cheio de bandido..." e o Jonas: "é mesmo?? é mesmo? é a sociedade, a sociedade... logo a Dona Morte passa por lá".
Aí um dia o Jonas viu que eu cresci. "Cresceu a menininha, tá grande a menininha... tá bonita, a menininha...", dizia ao meu pai.
E foi assim, o Jonas morando na nossa rua, meu pai trocando ideia com ele. Só meu pai. É uma pena ninguém ter botado fé no Jonas, porque ele foi uma excelente pessoa. Eu sei porque meu pai só era amigo de excelentes pessoas. Pessoas cheias de coração.
O Jonas sofreu com o abandono, eu acho, e com a indiferença. Espero que ele esteja em paz agora. Talvez, quem sabe, conversando com meu pai: "é, alemão, a sociedade... a Dona Morte passou, ela passou e levou a gente, aquela velhinha..."

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