segunda-feira, 5 de setembro de 2011

aconteceu agora

As minhas mãos ainda estão tremendo, o coração acelerado, mas quero experimentar a sensação de escrever neste estado.

Assitia a um filme quando ouvi os gritos de "Socorro, ah, meu Deus!!". O drama saiu da TV e estava na minha rua... Um homem só de cueca com sua batata da perna completamente pendurada agonizava e gritava de dor na frente da minha casa. O portão da vizinha violado. Em poucos minutos a rua já estava cheia, porque ele gritava muito alto, e os buchichos começaram. Gente falando que era bem feito, e que tinha é que ter machucado mais, quem manda ficar pulando no portão dos outros pra roubar. Interrogatórios absolutamente descabidos para o momento atormentavam o já atormentado moço (ressalto: só de cueca). Completamente alterado. Afirmando que viu alguém roubando sua moto, e que ele morava na nossa rua. Ninguém acreditando, porque ninguém o conhecia. "Essa bosta vem morrer na frente da minha casa!", disse o senhor que vai à missa todos os domingos. Chamei a ambulância e, trinta minutos depois, quem chegou foi a polícia, também cheia dos interrogatórios inapropriados. "Não importa o que ele fez, ele precisa de assistência", argumentei pro policial, profissional totalmente despreparado que não tirava a mão da sua arma. Uma arma contra um rapaz drogado de cueca se arrastando pelo chão com a perna pendurada. Um monte de juízes em volta.
A Maria já não aguenta ver gente passando mal assim, e ver tanta maldade. Começou a tremer e tremer e a lembrar de quando era o meu pai que estava caído no chão, nas mãos dela.

E chegou a ambulância! O rapaz enfim conseguiu dizer onde ficava a casa onde morava (para a Maria, a única que foi falar com ele sem desconfiança) e outros vizinhos explicaram que ele não pulava o portão para roubar. Deu um soco pedindo ajuda e amassou a chapa de ferro. Tudo esclarecido. Os olhares de reprovação permaneciam, como quem diz "drogado merece isso". Como tem gente doente em volta de mim.

4 comentários:

Vinícius Cássio disse...

=(

Rodrigo Caetano Pinto disse...

como tem gente doente no mundo!

Rodrigo Caetano Pinto disse...

Mil beijos meu amor =***

Eduardo Rodrigues disse...

Outro dia, na rua da minha casa, bem próximo, escutei uns gritos em plena hora do almoço. Sob aquele sol quente de meio-dia que ninguém suporta pegar havia um aglomerado de pessoas em volta de um homem caído. Era o clássico caso do cara que foi pego fazendo alguma coisa (parece que tentou furtar um carro), fugiu, foi perseguido, alcançado e derrubado na base da violência. E como sempre os valentões que derrubam continuam espancando o indivíduo já indefeso, daquele modo covarde. A rua enche, há especulações, muito cochichos desencontrados, olhos curiosos e acusações infundadas... Foi um episódio rápido, a polícia chegou, depois a ambulância, carregaram o homem todo mole pra dentro...

E eu penso a mesma coisa. Como é que se consegue ser tão violento. O que contaste foi muito mais barra... Já cansei de escutar beatas e cristãos convictos com discursos que destilam o fascismo mais odioso, o ódio mais denso. É assustador, quando sentimentos que estamos mergulhados num oceano de descaso, num sem fundo abismo de violências...